Bahia ocupa posição intermediária no financiamento estadual da ciência!

Painel nacional mostra relevância média na participação da ciência no orçamento do estado, mas indicadores de investimento ainda colocam a Bahia em posições desfavoráveis no cenário nacional

Por Michel Telles
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Bahia ocupa posição intermediária no financiamento estadual da ciência!

Foto: Soraya Smaili, professora da Unifesp e coordenadora do SoU_Ciência.

A Bahia ocupa uma posição intermediária no financiamento estadual da ciência, combinando peso econômico e populacional relevante com indicadores que ainda a colocam em situação desfavorável no cenário nacional. Os dados mostram que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) enfrenta o desafio de converter a escala econômica e populacional do estado em maior densidade científica e em níveis mais elevados de investimento por pesquisador e por habitante, elementos centrais para a consolidação de um sistema científico mais estruturado.

A composição das fontes de financiamento revela dependência significativa de recursos federais, ao mesmo tempo em que o aporte estadual garante alguma capacidade de indução de agendas próprias.

Esse retrato é apresentado pelo Painel do Financiamento das Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs), um instrumento inédito que organiza e sistematiza, em um único ambiente de consulta pública, informações sobre o financiamento da ciência, tecnologia e inovação nos 26 estados e no Distrito Federal. O Painel foi desenvolvido pelo Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência (SoU_Ciência), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o Conselho Nacional das FAPs (Confap). Acesse aqui o painel.

Elaborado ao longo de 2025, com base nos dados consolidados mais recentes, referentes ao ano de 2024, o Painel permite comparar como se articulam os esforços estaduais e federais no financiamento da pesquisa e da inovação e evidenciar assimetrias regionais no sistema científico brasileiro.

Protagonismo dos estados – No panorama nacional apresentado pelo Painel, as fundações estaduais assumem papel central. Em 2024, o orçamento conjunto das 27 FAPs alcançou R$ 4,8 bilhões (37,51%), valor superior, individualmente, aos R$ 3,46 bilhões das bolsas concedidas pela Capes (27,01%), aos R$ 2,3 bilhões dos aportes da Finep no apoio a instituições de pesquisa (17,99%) e aos R$ 2,24 bilhões do orçamento total do CNPq (17,49%).

“O objetivo é ampliar a transparência, fortalecer o controle social e oferecer subsídios técnicos para a formulação de políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação”, afirma Soraya Smaili, professora da Unifesp e coordenadora do SoU_Ciência. Segundo ela, a plataforma permite compreender com mais precisão como diferentes modelos de financiamento se combinam no país e onde estão as principais assimetrias e oportunidades de aprimoramento. “O Painel contribui para qualificar o debate ao tornar comparáveis, em escala nacional, dados antes dispersos”.

Prioridade média – A partir desse enquadramento nacional, o Painel detalha a composição das fontes de financiamento da ciência em todos os estados. Diante do total de R$ 332 milhões destinados à ciência no estado em 2024, a Fapesb respondeu por R$ 86 milhões (26%). Entre as agências federais, a Capes, no que se refere a bolsas, aportou R$ 136 milhões (41%), o CNPq, R$ 72 milhões (21,8%), e a Finep, R$ 36 milhões em instituições de pesquisa (11%).

Nos indicadores do financiamento estadual, o esforço fiscal — percentual da receita arrecadada com impostos que o estado destina à sua fundação de amparo à pesquisa — foi de 0,37% na Bahia. Esse percentual coloca o estado na 12ª posição do ranking nacional e indica uma prioridade média da ciência no orçamento baiano considerando os índices dos demais estados.

A mensuração do esforço fiscal possibilita avaliar o comprometimento financeiro dos governos estaduais com o fomento à ciência e tecnologia. A média nacional do esforço fiscal é de 0,39%. As maiores fatias da receita tributária destinadas à ciência estão no Rio de Janeiro (0,83%), São Paulo (0,78%), Amazonas (0,71%) e Alagoas (0,70%). Na outra ponta, Goiás, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sergipe aplicam menos de 0,2% de seus impostos em pesquisa.

O investimento per capita da Fapesb é de R$ 6,88 por habitante do estado, o penúltimo mais baixo no âmbito nacional. O valor médio entre as FAPs é de R$ 21,08. São Paulo lidera com R$ 61,48 por habitante. Distrito Federal e Espírito Santo vêm em seguida: R$ 42,30 e R$ 40,95 respectivamente. Em patamares semelhantes ao da Bahia estão Rondônia (R$ 8,39) e Rio Grande do Norte (R$ 5,31).

Densidade de pesquisadores – Já o investimento médio por pesquisador baiano ficou em R$ 5 mil, 25ª posição no conjunto das 27 FAPs. A média nacional é de R$ 12,2 mil/pesquisador. Depois do líder São Paulo (R$ 30,3 mil/pesquisador), se destacam Maranhão (R$ 26 mil), Espírito Santo (R$ 25,8 mil), Alagoas (R$ 22,4 mil) e Amazonas (R$ 22,2 mil). Na outra extremidade, depois da Bahia estão Rio Grande do Sul (R$ 2,9 mil) e Rio Grande do Norte (R$ 1,9 mil).

No indicador de pesquisadores por 100 mil habitantes, a Bahia tem posição desfavorável: a vigésima colocação no contexto nacional, com 138 pesquisadores. A média brasileira é de 186 pesquisadores. Os maiores índices são do Distrito Federal (459 pesquisadores), Rio Grande do Sul (328), Rio de Janeiro (315), Rio Grande do Norte (280) e Paraíba (255). Os índices mais baixos estão no Acre (125), Alagoas (123), Amapá (113), Rondônia (89) e Maranhão (69).

A coordenadora do Painel do Financiamento das FAPs, Maria Angélica Minhoto, destaca que “a transparência dos dados e o diálogo entre as instituições são essenciais para que a sociedade compreenda a importância do investimento em pesquisa. Ciência não é gasto — é desenvolvimento, inovação e soberania”, resume.                                Maria Angélica Minhoto, coordenadora do Painel do Financiamento das FAPs

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